A busca pela saúde planetária não se restringe às ciências da saúde

A primeira sessão de pôsteres da Conferência Global de Saúde Planetária 2021 reuniu estudos de diversas áreas do conhecimento com um tema em comum: a busca por alternativas para uma sociedade mais consciente.

Por Anni Lei

O Planetary Health Annual Meeting and Festival (PHAM) 2021 segue hoje (27/04) aberto ao público geral. O tema do DIA 2 foi “Conhecimento para a Saúde Planetária”. A primeira sessão de trabalhos em formato de pôster contou com resumos, banners digitais e vídeos de apresentação de até 3 min. Das 9h40 às 10h40 BRT, foi possível esclarecer dúvidas ao vivo e trocar experiências com os apresentadores. A sessão contou com 11 projetos sobre iniciativas práticas para colocar a Saúde Planetária em discussão na sociedade. Além disso, 32 pesquisas acadêmicas de diferentes áreas dialogaram com áreas interconectadas com Saúde Planetária, como mudanças climáticas, biodiversidade e poluição, educação em saúde, bioética, alimentação, conflitos, doenças infecciosas, doenças não transmissíveis, saúde mental, saúde maternal e adaptação. Os trabalhos convergiram para a necessidade de se pensar em soluções para uma sociedade mais consciente do papel da humanidade na Terra.

A primeira parte dos trabalhos trouxe projetos a respeito da necessidade de desenvolvermos novos modos de pensar sobre as relações entre nós e sobre a nossa relação com o planeta. Olga García-Moreno, Maarten Oranje e Diego Sanz-Yus comentaram que os humanos estão interligados a outros seres vivos ao longo da história da evolução cósmica. Eles demonstram seus estudos preliminares acerca de métodos de educação em saúde direcionada à Saúde Planetária.

A segunda parte foi dedicada a pesquisas acadêmicas sobre alguns dos principais temas da Saúde Planetária. Aqui, destacamos as pesquisas de duas Doutorandas, Embaixadoras Brasileiras de Saúde Planetária (GSP-IEA-USP), Bárbara Braga Cavalcante e Thaís Presa Martins – localizadas, nas sessões temáticas, respectivamente, nas áreas de bioética, e de deslocamento, ruptura e conflito. Bárbara problematiza a atuação dos profissionais de Enfermagem, correlacionando os aspectos do cuidado e da organização dos serviços de saúde com a sustentabilidade da categoria à saúde do planeta. Thaís, a partir do campo dos Estudos Culturais e dos estudos do filósofo francês Michel Foucault, analisa narrativas sobre povos tradicionais enquanto sinônimos de seres em harmonia com a natureza e de sociedades sustentáveis, tomados como modelos saudáveis para os sujeitos ocidentais urbanos da vida voltada para o consumo.

“Entendo que o Transtorno do Déficit de Natureza (TDN), ao criar um novo tipo de sujeito – em déficit de contato com a natureza e que precisa ser devidamente tratado, curado – cria um novo tipo de medicalização: a da relação sujeito-natureza. Nessa perspectiva, tomo as narrativas examinadas sobre os povos tradicionais como ditos que os posicionam como exemplos de sujeitos (mais) saudáveis por estarem em contato ininterrupto e harmônico com a natureza e seus ciclos vitais”
(Thaís Presa Martins)

No que tange à poluição e às doenças infecciosas, Lucca Nielsen levantou a relação entre a poluição do ar na grande metrópole de São Paulo (Brasil) e os índices de hospitalização. A partir de dados dos boletins epidemiológicos de São Paulo e de informações sobre poluição do ar e variáveis – como a espessura do material particulado ((PM), partículas de poluição suspensas no ar), temperatura e umidade -, o autor encontrou uma associação importante: aumento da poluição atmosférica atrelados a aumento de internações hospitalares. Rory Wilson, por sua vez, avaliou a relação entre zoonoses, saúde humana e respostas ecológicas. O pesquisador concluiu que os efeitos da mudança ecológica são quase onipresentes entre as zoonoses associadas aos ecossistemas.

Christine Vatovec mostrou que contaminantes farmacêuticos foram detectados globalmente na superfície das águas, incluindo 80% de rios e de córregos nos EUA. A falta de informação é a causa primária do descarte impróprio, e apenas 10% dos entrevistados receberam informações sobre o descarte correto de embalagens de medicamentos. Ela pontuou que algumas empresas recomendam descartar os medicamentos diretamente no ambiente.

Sobre alimentação, foram levantadas questões acerca do efeito da poluição na perda e na conservação da biodiversidade. Além disso, foram discutidas maneiras de estabelecer sistemas alimentares sustentáveis tanto em âmbito individual quanto governamental, e quais aspectos governamentais e culturais influem para que estes sejam postos em prática. A atividade pecuária brasileira foi enfatizada por Vanessa Theodoro Rezende. Para saber mais sobre as apresentações, acesse: https://www.planetaryhealthannualmeeting.com/schedule

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Edição: Gustavo Longo; Thaís Presa Martins