Caminhos para um futuro “zero carbono”

Painel reúne experiências multidisciplinares de implantação e de avaliação de alternativas para um mundo mais saudável

Por Candela Arias e Matheus Vieira

Em 30 de abril, último dia do Planetary Health Annual Meeting and Festival (PHAM) 2021 deu-se o evento paralelo “Criando caminhos viáveis ​​e eficazes para um mundo saudável e com zero carbono – evidências de cenários do mundo real”. O painel foi moderado por Amy Thomas (Climate Change and Planetary Health Communications Officer, LSHTM), e contou com a presença dos painelistas: Andrew Haines (Professor of Environmental Change and Public Health, LSHTM); Nicole de Paula (Sustainability Fellow, Institute for Advanced Sustainability Studies (IASS) Potsdam); Kristine Belesova (Assistant Professor and Deputy Director of the Centre on Climate Change & Planetary Health, LSHTM); Enrique Barros (Chair of the Working Party on the Environment of WONCA); e Peninah Murage (Co-deputy director of the Centre on Climate Change & Planetary Health, LSTHM). A sessão teve como co-hosts a Pathfinder Initiative; o LSHTM Centre on Climate Change and Planetary Health, e a Working Party on the Environment (WONCA).

O primeiro painelista, Andrew Haines, descreveu impactos das mudanças climáticas para a saúde e potenciais benefícios para a humanidade advindos de sua mitigação. Haines mostrou que, mesmo em um cenário otimista, as emissões de carbono serão responsáveis por um aquecimento médio global em torno de 2,1ºC até 2100; quando deveria ser de até 1,5ºC, conforme a Climate Action Tracker. Dentre os benefícios da mitigação das mudanças climáticas, o professor enfatizou a redução das taxas de mortalidade, que somam mais de 150 milhões de mortes anuais, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, o professor descreveu os esforços da Pathfinder Initiative no sentido de agrupar evidências e estudos de caso, a fim de divulgar soluções e de promover benefícios da mitigação climática.

Peninah Murage abordou o papel das Soluções Baseadas na Natureza (SBN) na construção de um futuro mais saudável. As SBNs, como definidas pela União Internacional para a Conservação da Natureza, são soluções para proteger, gerenciar de forma sustentável, e restaurar ou modificar os ecossistemas; abordando desafios sociais de forma eficaz e adaptável, de forma a implementar, simultaneamente, benefícios para o bem-estar humano e para a biodiversidade. Peninah explicou que utiliza-se de três abordagem para a implantação das SBNs, sendo elas: a) uso dos ecossistemas naturais (como conservação de áreas marinhas, a fim de buscar a segurança alimentar); b) manejo ou restauração dos ecossistemas (como o manejo sustentável da agricultura); c) criação de novos ecossistemas (como implantação de prédios verdes).

Kristine Belesova apresentou benefícios da mitigação e da adaptação ao clima no contexto urbano. As cidades são responsáveis por mais de 70% das emissões globais de carbono relacionadas à energia. Com base nesse dado alarmante, Belesova expôs alternativas para o planejamento urbano, como manutenção de parques e de florestas nas cidades, e soluções de resfriamento baseadas na evaporação, que objetivam diminuir a produção de gases causadores de efeito estufa, podendo até atingir a neutralidade de carbono.

Enrique Barros explanou sobre o problema do modelo tradicional de formação de médicos e compartilhou experiências com a Saúde Planetária em sua comunidade. Enrique argumentou que é preciso incluir o Antropoceno na formação dos médicos, através de um modelo educacional baseado em competências, para gerar uma visão abrangente sobre o impacto do meio ambiente na saúde humana. Desse modo, os novos médicos formariam-se mais preparados para os desafios futuros, impostos pela emergência climática. Barros também descreveu sua experiência como médico de família e comunidade no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, e sua luta constante para incluir a saúde planetária no cotidiano da comunidade; promovendo seu bem-estar por meio de ações de conscientização durante suas consultas e de monitoramento da qualidade do ar.

“Precisamos ouvir nossos pacientes, precisamos ouvir nossas comunidades
e precisamos ouvir o planeta”.
(Enrique Barros)

Nicole de Paula enfatizou problemas sistêmicos que impedem a consolidação de medidas verdadeiramente sustentáveis. Ela argumentou que, no que tange às  mudanças climáticas e à saúde planetária, tem sido um desafio transpor teoria em prática, ou seja, levar a produção científica de qualidade ao público em geral. Esse é um desafio urgente, uma vez que a grande mídia ainda não traz à tona a relação entre ambiente e saúde humana de maneira concreta e eficiente e, dessa forma, a percepção da sociedade acerca da urgência do assunto ainda é reduzida. A partir disso, Nicole frisou a importância dos movimentos sociais no engajamento nessas causas, especialmente, no reconhecimento de “interesses mascarados”. A painelista demonstrou que apesar da urgência e do conhecimento acerca das mudanças climáticas, há, ainda, grande fragmentação de ações para a sua mitigação; mas que, a pandemia de COVID-19 pode representar uma janela de oportunidade para agir e, mais importante, para unir esforços – uma vez que não apenas explica-se a crise às pessoas, mas elas têm vivenciado essa crise diariamente.

No âmbito da criação de políticas sustentáveis, Nicole de Paula apontou que é necessário convencer as autoridades competentes sobre o valor da prevenção. Segundo ela, a natureza é o real antídoto contra pandemias. Nesse sentido, o custo-benefício da prevenção das mudanças climáticas é mais pertinente do que o observado nas respostas às crises desencadeadas por elas, como enchentes e epidemias. Ainda sobre a criação de políticas, ressaltou os pontos fracos do Produto Interno Bruto (PIB), em relação à avaliação do desenvolvimento das nações, reforçando a necessidade de expandir a sua abordagem sobre desenvolvimento para incluir o bem-estar da população, a fim de melhor avaliar e planejar intervenções.

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Edição: Thaís Presa Martins