Como manter a saúde mental durante a pandemia?

As Apresentações Científicas Relâmpago: saúde mental apontaram caminhos para esse questionamento em uma sessão de trabalhos acadêmicos que convergem para a Saúde Planetária, a partir de visões de diversos países

Por Vanessa Oliveira

O Planetary Health Annual Meeting and Festival (PHAM) 2021 marca a quarta edição do evento da Planetary Health Alliance (PHA), sendo realizado pela primeira vez no Sul Global, bem como na América Latina e no Brasil. Na tarde de segunda-feira, 26 de abril, das 15:10 às 15:50 BRT, ocorreu a primeira sessão de Apresentações Científicas Relâmpago: saúde mental. Nela cinco trabalhos, selecionados do conjunto de resumos aceitos, puderam ser apresentados em formato de vídeos curtos (com até 3 min de duração). Posteriormente, os autores participaram de uma sessão de perguntas e respostas ao vivo com o público, solidificando o tema do DIA 1 do #PHAM2021 – Valores Fundamentais Para a Saúde Planetária. A sessão foi moderada por Marco Scanavino (Professor do Departamento de Psiquiatria da USP), e abordou temas emergentes relacionados à saúde mental, contato com a natureza e pandemia de COVID-19.

O momento que a humanidade vem enfrentando em relação à COVID-19 tem causado diversas alterações das condições psíquicas dos indivíduos, tais como ansiedade, depressão, síndrome do pânico, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), entre outros. Esses vêm sufocando a sociedade, que se encontra em situações de estresse extremo, preocupações exageradas, solidão, desânimo, choro, tensão, medo, sofrimento e irritabilidade. Por outro lado, avanços neurocientíficos mostram-se potentes para tratamentos contra esses comportamentos disfuncionais (que causam pensamentos exageradamente negativos e autocríticos). Através de práticas inclusivas, é possível restaurar pensamentos funcionais (equilibrados) de pessoas em situação de sofrimento mental.

Técnicas de aprendizagem modeladora – nas quais os envolvidos aprendem a transformar o ambiente negativo e a reconstruir pensamentos positivos – podem ser muito eficazes. É possível desenvolver comportamentos resilientes interpretando os seus próprios pensamentos, transitando para um estado emocional mais relaxado, calmo e feliz; colhendo frutos de saúde e bem-estar.

Os apresentadores da sessão, Ans Vercammen, Katharine Zywert, Emily York, Viveka Guzman e Ronan Foley, discutiram sobre a integridade ecológica, incentivando um estilo de vida que vê a saúde individual como interdependente da saúde coletiva. É tão importante cuidar do próprio corpo, da própria saúde mental, quanto cuidar da comunidade, garantindo-lhe assistência à saúde. Para exemplificar, comentaram sobre o uso de terapias sócio-ecológicas e sobre a comunicação como agente chave para a promoção de valores na saúde planetária.

De acordo com Emily York, estamos aprendendo sobre o poder da “contação de histórias”, criando espaços e oportunidades para as pessoas compartilharem as suas experiências e para ouvir uns aos outros. Ela reafirma que existem muitas maneiras de realizar esta prática, como com o uso de tecnologias digitais, aumentando as conexões entre as pessoas; promovendo empatia, e contribuindo com a saúde mental. O paisagismo se aplica a qualquer faixa etária, na visão de Viveka Guzman. Ela considera que possam haver diferenças em como as pessoas se relacionam com os espaços verdes; e que, em alguns casos, os tratamentos de transtornos mentais, associado ao uso de fármacos, pode ser complementado com a “terapia paisagística”. Katharine Zywert citou exemplos criativos e bem sucedidos da criação e interseção entre alimentos e saúde, enfatizando o cultivo da terra e seus benefícios para a saúde mental.

A questão da falta de segurança em alguns países, como o Brasil, foi levantada pelo público. Ronan Foley considera essa questão um paradigma. Ele afirma que, na literatura, existem muitas pesquisas acerca do potencial positivo dos parques e das áreas verdes para a saúde mental. Porém, reconhece que os parques podem ser espaços perigosos, e que isso é especialmente apontado por estudos de gênero, que se referem à insegurança das áreas verdes para as mulheres.

O moderador Marco Scanavino esclareceu que devemos refletir sobre conexões entre saúde mental, ambiente e comunidade inclusiva. Para ele, o racismo tem criado uma polarização (divisão da sociedade), tornando-se uma barreira para a resiliência na saúde mental. Sobre isso, Emily York explica que para se ter coesão social, precisamos nos manter unidos e operar de forma constante entre nós. Assim, geraremos um fator protetor da sociedade; do contrário, criaremos mais comportamentos de isolamento.

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Edição: Andreia Couto; Thaís Presa Martins

Imagem: Vanessa Oliveira