Em 2015, a Rockefeller Foundation e a renomada revista científica The Lancet, patrocinaram a escrita e publicação do relatório denominado “Safeguarding human health in the Anthropocene epoch: report of The Rockefeller Foundation–Lancet Commission on planetary health” (Whitmee et al. 2015). No mesmo ano, em esforço conjunto inédito a Organização Mundial de Saúde e o Secretariado da Convenção da Diversidade Biológica, publicam, com mais de uma centena de colaboradores “Connecting global priorities: biodiversity and human health: a state of knowledge review”, que passa a nortear ações conjuntas futuras. Os textos abordam de maneira abrangente, clara e direta o impacto sem precedentes dos humanos nos ecossistemas e os riscos que isso acarreta para a sobrevivência da própria civilização humana. Este período em que a humanidade passou a ser o principal agente das mudanças no planeta tem sido chamado de Antropoceno.
Estes estudos contribuíram para a estruturação de um campo emergente de pesquisa: a saúde planetária. Estimulado pela visão sistêmica desses relatórios seminais, este novo campo aborda problema contemporâneo muito concreto e urgente: compreender, quantificar e agir para reverter os efeitos do crescimento da população humana e da aceleração das atividades socioeconômicas sobre o ambiente que ao gerar perturbações dos ecossistemas naturais da Terra, por sua vez, impactam, retroativamente, a saúde e o bem-estar humanos.
As perturbações antrópicas nos ecossistemas naturais se caracterizam por mudanças no clima, no uso da terra, alterações no ciclo de nitrogênio e fósforo, poluição química do solo, água e ar, redução na disponibilidade de água potável, perda da biodiversidade, destruição da camada de ozônio, acidificação dos oceanos, entre outras. Os relatórios também abordam as consequências dessas perturbações ecossistêmicas no sentido inverso, sobre a saúde e bem-estar da humanidade, com surgimento de novas doenças, agravamento das doenças infecciosas e aumento das doenças crônicas não transmissíveis relacionadas à deterioração do sistema alimentar vigente, hiper-urbanização, resistência microbiana, migrações climáticas e conflitos por recursos naturais, entre outros.
A Saúde Planetária é, portanto, um novo esforço para tratar a questão da sustentabilidade e da vida humana no planeta sob ótica cada vez mais integrativa, transdisciplinar e global, já que os problemas desta crise planetária transpassam fronteiras geopolíticas, delimitações acadêmicas e afetam a humanidade como um todo.In 2015, the Rockefeller Foundation and the renowned scientific journal The Lancet sponsored the writing and publication of the report entitled “Safeguarding Human Health in the Anthropocene Epoch: Report of The Rockefeller Foundation – Lancet Commission on Planetary Health” (Whitmee et al. 2015). In the same year, in an unprecedented joint effort, the World Health Organization and the Secretariat of the Convention on Biological Diversity published, with more than a hundred contributors, “Connecting Global Priorities: Biodiversity and Human Health: A State of Knowledge Review”. The texts address comprehensively, clearly and directly the unprecedented impact of humans on ecosystems and the risks that this entails for the survival of human civilization itself. This period in which humanity became the main agent of change on the planet has been called the Anthropocene.
These studies contributed to the structuring of an emerging field of research: planetary health. Stimulated by the systemic view of these seminal reports, this new field addresses a very concrete and urgent contemporary problem: understanding, quantifying, and acting to reverse the effects of human population growth and the acceleration of socio-economic activities on the environment that, by generating disruptions to the natural ecosystems of the world. Earth, in turn, retroactively impacts human health and well-being.
Anthropogenic disturbances in natural ecosystems are characterized by changes in climate, land use, changes in the nitrogen and phosphorus cycle, chemical pollution of soil, water and air, reduced availability of drinking water, loss of biodiversity, destruction of the ozone, ocean acidification, among others. The reports also address the consequences of these ecosystem disturbances in reverse, on the health and well-being of mankind, with the emergence of new diseases, worsening infectious diseases and increased chronic noncommunicable diseases related to the deterioration of the current food system, hyper- urbanization, microbial resistance, climate migrations and conflicts over natural resources, among others.
Planetary Health is, therefore, a new effort to address the issue of sustainability and human life on the planet from an increasingly integrative, transdisciplinary and global perspective as the problems of this planetary crisis cross geopolitical boundaries, academic boundaries and affect humanity, as a whole.