A influência das mudanças climáticas e do comportamento humano na transmissão de doenças infecciosas

Apresentações relâmpago foram marcadas pela relação entre saúde planetária e doenças infecciosas. Vulnerabilidades socioambientais e comportamento humano foram apontados como importantes  agentes potencializadores 

Por Victor Yuji Yariwake

No quarto dia do Planetary Health Annual Meeting and Festival (PHAM) 2021, as Apresentações Científicas Relâmpago (Lightning talks) trouxeram estudos sobre a relação entre doenças infecciosas – esquistossomose, malária, dengue, COVID-19 – e saúde planetária, considerando principalmente as mudanças climáticas, as vulnerabilidades socioambientais e o comportamento humano como possíveis fatores facilitadores do aumento das taxas de transmissão. A Dra. Felicia Keesing (Ecologista e Educadora em Bard College, Nova York), moderadora da sessão, enalteceu a qualidade e a clareza das apresentações dos trabalhos. Ela contribuiu com perguntas e comentários que fomentaram discussões acerca de políticas, de medidas e de implementações adequadas para mitigar as situações de contaminação observadas.

A questão da exposição, do risco e da vulnerabilidade à esquistossomose foi abordada no trabalho de Andrea Lund (Universidade de Stanford), que identificou e quantificou a contribuição desses fatores na infecção por Schistosoma haematobium em crianças em situação vulnerável no Senegal. A pesquisa revelou que o contato com a água contaminada com larvas do parasita (utilizada para consumo, banho e atividades econômicas locais) aumenta as chances de infecção e a intensidade da doença, e, ainda, que medidas ambientais (controle da transmissão) e sociais (acesso à água tratada) são necessárias para diminuir a contaminação pela doença.

O impacto de atividades econômicas em condições precárias no aumento de doenças infecciosas também foi abordado no estudo de Isabel Fletcher (Faculdade de Higiene e Medicina Tropical de Londres). O trabalho apontou que o aumento da incidência de malária na Venezuela pode estar relacionado à atividade de mineração. Essa, além de degradar o ambiente e criar focos de proliferação de mosquitos transmissores, provoca aumento populacional na região, ampliando a rede de contágio da doença e tornando mais difícil a implementação de medidas de mitigação para a mesma.

A malária foi destaque também na pesquisa de Ryan Harp (Universidade de Northwestern), que visou entender como a variabilidade climática afeta a transmissão da doença em Moçambique. Ryan coletou dados relacionados às condições climáticas (como temperatura e precipitação) de cada região do país e compilou dados de notificação de casos de malária, mostrando que há uma associação significativa entre as características climáticas e a ocorrência de malária para cada região. Esse modelo de análise pode ajudar a monitorar ações de controle da doença em Moçambique.

O monitoramento de doenças infecciosas foi ressaltado por Sophie Lee (Faculdade de Higiene e Medicina Tropical de Londres), que estudou a expansão da transmissão de dengue no Brasil. Sophie realizou uma análise espaço-temporal verificando a ocorrência do aumento das áreas de transmissão da doença ao identificar regiões que passaram a apresentar incidência de casos na última década, como o oeste da Amazônia e o norte do Paraná. Para complementar o estudo, Lee comentou que pretende incluir em seu modelo a influência das mudanças climáticas e a conectividade das cidades ao longo do período de expansão da dengue no Brasil.

Além disso, a sessão abordou a discussão acerca da influência das condições climáticas na transmissão do novo coronavírus. Rosa von Borries (Universidade de Berlim) apresentou os principais mecanismos pelos quais poderia haver uma influência das condições meteorológicas na transmissão do vírus – considerando características sazonais de resistência da partícula viral, de imunidade do hospedeiro, e do comportamento humano. Com base nisso, Rosa realizou uma revisão sistemática, cujos resultados evidenciaram a incerteza da influência de fatores meteorológicos na transmissão do novo coronavírus. Por fim, apontou a necessidade de boas práticas de pesquisa para justificar tomadas de decisão governamentais adequadas ao combate à transmissão da COVID-19.

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Edição: Andreia Couto; Thaís Presa Martins