Sessão de entrevistas do quarto dia do PHAM 2021 discute desafios, oportunidades e lições aprendidas por candidatos a cargos públicos em plataformas de Saúde Planetária
Por Guilherme de França Santos
A Saúde Planetária pode (e deve) ser uma importante plataforma para o desenvolvimento de políticas públicas. Para tratar disso, o quarto dia do Planetary Health Annual Meeting and Festival (PHAM) 2021 trouxe a entrevista “Liderança e lentes de saúde planetária em governança e política”. Com mediação de Teddie Potter (Diretora de Saúde Planetária da Escola de Enfermagem da Universidade de Minnesota); contou com os entrevistados: Courtney Howard (Ex-Presidente da Associação Canadense de Médicos pelo Meio Ambiente), e Sandeep Maharaj (Reitor Associado de Educação a Distância, Planejamento e Projetos, University of the West Indies). A sessão abordou a necessidade de que nossas vozes sejam ouvidas em todos os níveis; destacando a importância da comunicação, e de desenvolvermos a nossa capacidade de engajamento das pessoas em prol da saúde planetária. Os convidados discutiram desafios, oportunidades e lições aprendidas ao se candidatarem a cargos públicos em uma plataforma de saúde planetária.
Courtney Howard relembrou sua experiência pessoal a respeito de políticas públicas. Mobilizada pela preocupação com a saúde da filha recém-nascida, por residirem em uma área próxima a reservas de exploração de petróleo, a médica realizou diversas pesquisas para identificar como as comunidades ao redor da região são afetadas; no entanto, não encontrou dados a respeito. Em resposta, tentou apelar com uma moção, mas não obteve sucesso no parlamento. “Estava em um local de intersecção de dados, política, pesquisa e poder, mas era uma intersecção que não atendia as comunidades. Havia muito trabalho a ser feito”, explicou.
Sandeep Maharaj lembrou que a “política tem que gerar mudança e refletir as necessidades e desejos de seu povo”. Relatou que, desde os nove anos, demonstrava interesse por política. Porém, nota que a geração atual, sobretudo as crianças, estão se distanciando desse interesse, devido ao processo educacional. Para ele, é preciso envolver os jovens novamente nessas discussões; especialmente, em tópicos relacionados à saúde planetária.
“Quando falamos dos efeitos, nós falamos da morte, mas não falamos da depressão, de doenças e dos efeitos a longo prazo. Temos que conversar sobre o que é tangível, aquilo que a pessoa vê e sente”.
(Sandeep Maharaj)
Mas como fazer isso se “a velocidade das mudanças políticas são lentas”, como lembrou Teddie Potter? Candidata a um cargo político em 2020, Courtney Howard produziu uma plataforma de mais de 70 páginas, a partir da contribuição de dezenas de colegas de todo o mundo para reduzir os casos de doença em sua região. Ela comentou que não é fácil, evidentemente. Nesse caminho, com a pandemia de COVID-19, viu os países mais ricos favorecerem processos para proteção de patentes, ao invés de permitirem que todas as nações pudessem produzir suas vacinas a partir de suas capacidades. Contudo, aprendeu que é preciso alinhar seus próprios objetivos com as métricas exercidas pela classe política, permitindo eleger pessoas que irão implementar as políticas públicas necessárias.
A diferença entre os discursos egocêntrico e ecocêntrico foi outro tópico do debate. “Temos que trabalhar com os egos das pessoas para gerar as métricas”, disse Sandeep. Para Courtney, é preciso focar no interlocutor e criar diferentes formas de conversas para ter uma comunicação mais efetiva. Segundo ela, um futuro saudável tendo como base a comunicação é o melhor jeito de gerar atitudes voltadas a esse impulso, para alcançarmos mudanças.
No encerramento da sessão, os entrevistados responderam sobre o que a sociedade pode fazer para apoiar a saúde planetária. Maharaj destacou a visão e a missão: “tem que ir além do individual e das personalidades”. Howard, por sua vez, destacou a importância das campanhas não apenas para angariar recursos financeiros, mas para engajar e gerar mudanças de forma mais estratégica.
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Edição: Gustavo Longo; Thaís Presa Martins