Saúde planetária e doenças não-transmissíveis: impactos da poluição do ar na saúde e no desenvolvimento socioeconômico

Apresentações reforçaram a necessidade da diminuição dos níveis ambientais de poluentes atmosféricos em prol da saúde planetária

Por Victor Yuji Yariwake

A relação da saúde planetária com as doenças não-transmissíveis, também conhecidas como doenças crônicas, foi tema da terceira sessão de Apresentações Científicas Relâmpago (ou Lightning Talks), do Planetary Health Annual Meeting and Festival (PHAM) 2021, na tarde de quarta-feira, 28 de abril. A sessão, que ocorreu das 14:40 às 15:00 BRT, foi moderada por Diana Lynne Madden (Reitora da Escola de Medicina da University of Notre Dame, Austrália). Contou com cinco trabalhos selecionados, a partir do conjunto de resumos aceitos pelo #PHAM2021. Os temas abordados foram: a) poluição do ar e doenças não transmissíveis no sul da Ásia; b) relação entre poluição do ar e índices de mortalidade infantil na América Latina; c) benefícios da frota de carros elétricos em Chicago para a saúde humana; d) impactos da seca e da poluição do ar para a emergência pediátrica na Califórnia; e) poluição do ar por eventos extremos de incêndio na Califórnia.

Apresentações Científicas Relâmpago: doenças não transmissíveis

Todos os trabalhos reforçaram a associação entre a poluição do ar (ambiental e urbana) com o aumento de doenças não transmissíveis e evidenciaram as dificuldades na implementação de medidas para reduzir os níveis de poluentes atmosféricos. Madden, a moderadora, reforçou que os poluentes atmosféricos gerados na queima de combustíveis fósseis, principalmente o material particulado, estão associados a efeitos na saúde humana, provocando doenças e causando um aumento da mortalidade. “Não há níveis seguros de poluição do ar”, afirmou.

A questão do aumento das taxas de mortalidade foi apresentada no trabalho de Ana Ortigoza (Universidade de Drexel). Em seu estudo epidemiológico, Ana coletou dados de exposição ao material particulado fino (MP2,5) e de índice de mortalidade infantil em várias cidades da América Latina. Ela mostrou que existe uma maior vulnerabilidade em crianças, principalmente bebês, que apresentam maior mortalidade em decorrência da exposição à poluição do ar nessas cidades.

Questões econômicas foram abordadas no estudo de modelagem realizado por Anastasia Montgomery (Universidade de Northwestern). Utilizando simulações de qualidade do ar, Anastasia mostrou que a adoção de veículos elétricos provocaria impactos positivos na saúde e na economia da cidade de Chicago. Apesar do aumento de ozônio, haveria uma redução significativa de outros poluentes (incluindo MP2,5); diminuição das mortes causadas pela poluição do ar, e menores gastos com saúde pública na cidade.

Efeitos sobre regiões agrícolas foram explorados no estudo de Aubrey Doede (Universidade de Virginia). Ela evidenciou que a seca na região de Imperial County, causada pelo uso intensivo e insustentável de água para agricultura, pode provocar impactos significativos na saúde. Em seu trabalho, Aubrey mostrou que os ventos secos dessa região, que contém material particulado oriundo da erosão, estão relacionados a uma maior incidência de asma em crianças que moram ao redor desse cenário de destruição ambiental.

Um contexto semelhante ao de Aubrey foi abordado por Miriam Marlier (Universidade da Califórnia), cujo trabalho apontou que as queimadas recentes na Califórnia provocaram uma piora na qualidade do ar e na saúde. Utilizando mapeamento de satélite de alta resolução, Miriam indicou que as queimadas contribuíram com o aumento de MP2,5 na atmosfera da região e provocaram impactos negativos na saúde da população.

Os impactos sociais também foram colocados em evidência nessa sessão. Nilanjan Bohr (Instituto Indiano para Assentamentos Humanos) explanou sobre a questão da poluição atmosférica urbana e o desenvolvimento de doenças crônicas no sudeste asiático. Nilanjan indicou que baixos índices sócio-demográficos estão relacionados com aumento da mortalidade por poluição do ar e que há necessidade de ações para diminuir as desigualdades sociais. Essas, consequentemente, reduziriam o risco de desenvolvimento de comorbidades associadas com a exposição à poluição do ar em ambientes urbanos.

A sessão de saúde planetária e doenças não-transmissíveis foi caracterizada por apresentar os efeitos da poluição do ar sobre a saúde e sobre os aspectos socioeconômicos. Além disso, elencou dificuldades na adoção de medidas para controlar a emissão de poluentes atmosféricos, promovendo reflexões acerca da necessidade de diminuição da poluição do ar em prol da saúde do planeta.

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Edição: Clara Rellstab; Thaís Presa Martins

Imagem: Victor Yuji Yariwake