Encontro traz perspectivas sobre a importância dos valores como uma base para construir um mundo melhor. Quais valores unificadores são transculturais?
Por Bianca Santana e Joana Zuqui
“Os valores são como uma força orientadora em tudo o que buscamos e fazemos”. Esse pensamento foi o pontapé inicial do Planetary Health Annual Meeting and Festival (PHAM) 2021, que teve a sua primeira palestra transmitida via videoconferência na tarde desta segunda-feira, 26 de abril. O Painel “A mudança de que precisamos deve ser baseada em valores compartilhados” contou com a mediação da Professora Mary Tucker (Fórum da Universidade de Yale sobre Religião e Ecologia), e a presença de Lucy Mulenkei (Rede de Informação Indígena); Karenna Gore (Centro de Ética da Terra), e Nainoa Thompson (Polynesian Voyaging Society).
A professora de Yale, Mary Tucker (titular de um programa de mestrado entre a School of the Environment e a Divinity School), ao lado de John Grim, organizou dez Conferências sobre Religiões Mundiais e Ecologia na Universidade de Harvard, o que contribuiu para lançar um novo campo. Além disso, escreveu diversos livros sobre a relação das religiões com o ambiente, como em “Ecology and Religion” e “Confucianism and Ecology”. Durante o encontro, Tucker pontuou como as religiões têm algo a oferecer nesse momento de mudança em que vivemos; introduziu os convidados, e passou a palavra a Karenna Gore, fundadora e diretora do Center for Earth Ethics (CEE) no Union Theological Seminary. O Center for Earth Ethics une os mundos da religião, academia, política e cultura para discernir e buscar as mudanças que são necessárias para interromper a destruição ecológica e criar uma sociedade que valorize a saúde de todos a longo prazo. A pesquisadora menciona como os humanos produziram uma objetificação do mundo natural, e que mesmo as crianças são educadas com essa visão de exploração e de natureza como um objeto a ser usado. Essa ideia de objetificação, para ela, é secular; todavia, as religiões podem oferecer duas versões. Uma delas é o ensinamento da divindade da natureza, por exemplo na Bíblia hebraica, na qual há passagens em que Deus fala através da natureza e com a natureza. Karenna afirma que precisamos nos aprofundar nas culturas religiosas que vem dos povos indígenas e incluí-las em nossa cultura.
A segunda palestrante, Lucy Mulenkei, Diretora Executiva da Rede de Informação Indígena (IIN), faz parte da tribo Maasai e tem como principal área de pesquisa o desenvolvimento sustentável das comunidades de pastores indígenas do Quênia. Ela assinalou que temos que compartilhar valores, histórias e experiências – pois tudo está conectado. Segundo Lucy, as histórias nos ensinavam a como nos relacionar com a natureza e voltar às nossas raízes. Mulenkei complementa falando do nosso dever em trabalharmos juntos, e de como os povos indígenas, ainda que detenham muito conhecimento sobre a terra, não são escutados o suficiente e não têm os seus direitos discutidos e pensados. “Temos que olhar para esses problemas juntos. Nós podemos dividir o que temos e o que não temos”, disse.
Nainoa Thompson nasceu e cresceu no Havaí; é explorador, ambientalista, navegador mestre, revivalista cultural, educador e contador de histórias, liderando a redescoberta e o renascimento da antiga arte polinésia da navegação. Por meio de suas viagens, ensino e engajamento, ele abriu um diálogo global e multigeracional sobre a importância de sustentar os recursos oceânicos e o patrimônio marítimo. Em sua fala, trouxe questionamentos importantes. Qual é a cultura da humanidade? Quais são os valores fundamentais que definem a humanidade? Ele afirma que “Não podemos proteger a terra se não a entendermos, precisamos viver baseados nos sistemas naturais”. Ele ainda assinala que uma característica da vida das pessoas que habitam uma ilha é acreditar que você tem uma responsabilidade maior que você mesmo, é cuidar do outro com carinho, independentemente das diferenças ou das fronteiras, e finaliza destacando que “nossos valores são baseados na gentileza a todos os seres”.
De acordo com os palestrantes, aos poucos, os seres humanos foram perdendo a conexão com a natureza, a partir do ponto em que começaram a valorizar mais a riqueza do que os valores foram se distanciando cada vez mais. Os povos indígenas ainda tem essa linha de conexão, mas no mundo no qual vivemos, com o avanço da ciência, as pessoas priorizam olhar o valor do dinheiro. Quando falamos de mudança, é uma mudança para seguir adiante e compartilhar os valores baseados no amor, na reciprocidade e na biodiversidade, pois só assim poderemos resgatar e regular a nossa conexão com a mãe terra.
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Edição: Clara Rellsab; Thaís Presa Martins