Diplomacia em saúde planetária, salvando o multilateralismo para nos salvar

O que deve mudar para que indicadores socioambientais sejam valorizados? Qual é a importância do multilateralismo para a sustentabilidade do planeta e para a manutenção da nossa existência?

Por Juliana Girardi Wagner

O Planetary Health Annual Meeting and Festival (PHAM) 2021 nesta quinta-feira, 29 de abril, abordou assuntos emergentes sobre governança e cooperação global. O painel “Diplomacia em Saúde Planetária: salvando o multilateralismo para nos salvar”, das 11:10 às 12:10 BRT, teve moderação da Dra. Nicole de Paula (Fundadora do movimento Mulheres Líderes para Saúde Planetária). Contou com os painelistas: Rolph Payet (Secretário Executivo, Secretariado das Convenções de Basileia, Roterdã e Estocolmo), Sandrine Dixson-Declève (Co-Presidente do Clube de Roma), e Stefanos Fotiou (Diretor da Divisão de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU).

Painel -“Diplomacia em Saúde Planetária: salvando o multilateralismo para nos salvar”

Em um mundo onde governos e países estão oscilando entre o nacionalismo e o multilateralismo, os palestrantes apresentaram as suas perspectivas profissionais sobre como a governança multilateral precisa ser reformulada e fortalecida, para que a nossa sociedade e o planeta prosperem. Dentre os temas apontados, estiveram: o papel chave das mulheres na liderança em Saúde Planetária; a necessidade dos homens em desenvolver as suas habilidades de cuidados tanto nas relações humanas quanto com o planeta; a importância do protagonismo social; o uso de fontes renováveis de energia; os grandes vilões atuais: poluição e consumismo; e a potência da educação para pensarmos de outros modos sobre o que é “valor” hoje.

Stefanos Fotiou relatou que um dos problemas que vivenciou em sua experiência profissional na Organização das Nações Unidas (ONU) é que, em alguns governos, há concorrência entre os ministérios, ao invés de uma governança sistêmica. Para Fotiou, não podemos continuar com o modelo econômico dos anos 1960 e 1970, utilizando as mesmas ferramentas e o mesmo orçamento, temos que usar a capacidade dos ecossistemas para sabermos o quanto podemos utilizar. “Não podemos superar a natureza, em favor do ser humano”, afirmou, acrescentando que conseguiremos mudanças com regulamentação, educação e alteração de nossa visão de precificação.

Nicole de Paula sinalizou que devemos buscar soluções transversais e quebrar os silos organizacionais; incluir o sul global nas reformas e decisões da ONU, e que o nosso papel enquanto cidadãos é o de escolher empresas comprometidas com o desenvolvimento sustentável. A moderadora questionou aos painelistas: “Como podemos evoluir na diplomacia?”. Stefanos trouxe o exemplo da pandemia de COVID-19, que não é uma conspiração e sim um problema decorrente da forma como o ecossistema vem sendo tratado. Para ele, é preciso pensar em uma saúde única, e os países precisam se unir e comprometer-se com a mudança.

Sandrine Dixson-Declève iniciou a sua fala com temas relevantes na atualidade, como o movimento Black Lives Matter. Citou a importância dos cidadãos em participar da governança, de modo a influenciar os governos a levar as narrativas em pauta aos âmbitos nacional e internacional. Comentou, ainda, sobre a economia do bem-estar, na qual valorizar o crescimento através do Produto Interno Bruto (PIB) é equivocado; é preciso utilizar os indicadores socioambientais como referência para desenvolvimento. Rolph Payet, por sua vez, trouxe o tópico “multilateralismo sob ataque”, criticando a polarização e o nacionalismo, que dificultam que temas como a poluição e o consumo excessivo sejam combatidos. Payet apontou que os governantes precisam ter responsabilidade moral; e que não podem pensar apenas em seus mandatos, e sim ter uma visão de longo prazo.

Nicole trouxe à discussão: qual é o papel da igualdade de gênero na saúde planetária? Sandrine respondeu que precisamos de mulheres em todos os níveis, pois elas são boas em se comunicar, se importam com o coletivo, com o cuidado e com a saúde; além disso, apresentam boa abordagem social e se preocupam em fornecer à população direito ao que é essencial. Rolph acrescentou que os homens também precisam desenvolver a sensibilidade e o cuidado com a sociedade e o planeta.

“Perde-se a diversidade se não há mulheres na negociação”. 

(Stefanos Fotiou)

Sobre governança, Fotiou citou a responsabilidade ampliada dos governos e dos pesquisadores em gerar evidências e em demonstrar soluções envolvendo a sustentabilidade e a geração de empregos, a fim de que possam influenciar os legisladores nas tomadas de decisões. Aconselhou aos estudantes pesquisar sobre ferramentas que os governos podem empregar para reverter o modelo econômico vigente. Por fim, recomendou que ir para a Universidade encontrar soluções para salvar a humanidade deve ser o objetivo na atualidade. No encerramento do painel, Nicole abordou a importância do ativismo para pressionar a  tradução  dos relatórios em ações e deixou um conselho para os estudantes:

“Sejam corajosos para cocriar soluções”!

(Nicole de Paula) 

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Edição: Clara Rellstab; Thaís Presa Martins

Imagem: Juliana Girardi Wagner